Acordei de pernas para o ar. São mesmo 71? Essa agora; são apenas 17.
Console-me aquela desculpa de que ninguém tem a mínima sageza aos 17 anos. Idem, digo eu, se fizer o pino aos algarismos.
Por necessidade de reencontrar acontecimentos de 1961, tinha eu, aí sim, os meus sisudos 17 anos, dei comigo a carrear para aqui sabedoria de Brecht.
Que reparto com quem, de boa memória e coração gentil, hoje me telefonou.
Obrigado.
"Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver."
Bertold Brecht
"LOUVOR DO ESQUECIMENTO
Bom é o esquecimento.
Senão como é que
O filho deixaria a mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.
Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discípulo tem de se pôr a caminho.
Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena de mais.
O fogão aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece. O lavrador
Não reconhece a broa de pão.
Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã?
Como é que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?
A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens."
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela
Console-me aquela desculpa de que ninguém tem a mínima sageza aos 17 anos. Idem, digo eu, se fizer o pino aos algarismos.
Por necessidade de reencontrar acontecimentos de 1961, tinha eu, aí sim, os meus sisudos 17 anos, dei comigo a carrear para aqui sabedoria de Brecht.
Que reparto com quem, de boa memória e coração gentil, hoje me telefonou.
Obrigado.
"Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver."
Bertold Brecht
"LOUVOR DO ESQUECIMENTO
Bom é o esquecimento.
Senão como é que
O filho deixaria a mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.
Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discípulo tem de se pôr a caminho.
Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena de mais.
O fogão aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece. O lavrador
Não reconhece a broa de pão.
Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã?
Como é que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?
A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens."
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Tradução de Paulo Quintela