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sábado, 30 de maio de 2009

Dúvida e vaidade

Envelhecer pode tornar-se um atalho para o cartesianismo. Se se levar a sério a breve consideração de J. M. Coetzee, no seu último Diary of a bad year. Será que os meus joelhos aguentam tal flexão, neste caminho sem bengala? Deixa lá ficar os 50 cents na calçada, que a cidade cresce em desabrigo. E desabrigados.

Pelas fragilidades iniludíveis do corpo se aceita a dúvida. E até a dívida. Já paguei para este Carnaval, minha amiga.No final, só nos resta a alternativa pirrónica.



Hoje acrescento, à ideia do escritor sul-africano, a declaração introdutória da autobiografia de David Hume:

"It is difficult for a man to speak long of himself without vanity".

Tenho-me incomodado nos últimos tempos com o papel erosivo da vaidade. Como educador público, espero não ter deixado a imagem de um grande vaidoso. Engano? O que hei-de fazer?Agora é tarde.
No entanto, reconheço as oportunidades perdidas, na sala de aula, para dissecarmos a quimera que tanto atormentava João Crisóstomo: "Ó vaidade das vaidades..." Já lá vai a primavera ufana em que eu sabia escrever isto em grego.

E agora me calo, para não dar razão ao Hume. Tanto mais que estou a tomar o gosto pela vaidade da blogoesfera .

terça-feira, 26 de maio de 2009

Em obras

No grande supermercado, notas de crise reduzem afluência de consumidores. Pelos corredores, comparam-se cêntimos, e reconsidera-se a premência das necessidades. Não leves, querem determinar os homens. Vais ver que faz falta!, a mulher põe no cesto. De onde vêm estas batatas? Do raio que as parta! De França e Espanha, senhores. Portuguesas? Produtos agrícolas portugueses? Não me faça rir, primeiro tinham de morrer cinco milhões. À fome.
Continuamos à espera que as coisas cheguem, não já no bojo das naus, mas no dos camiões TIR. Se fechassem as fronteiras e gritassem: Quem quer boleta que atrepe!, é que seria! Punha-se para aí todo o pessoal a zaragatear contra o governo. Este e todos os outros, passados ou vindouros, que o paisinho sempre foi mal governado. Benza-nos Deus. Para depois se chegar à triste conclusão. Essa mesma: já nem temos terra para cultivar batatas. A não ser que a UE nos forneça subsídios para desalcatroar as estradas. Foi assim que as vinhas, os olivais e a esperança dos agriculturas foram arrancadas há vinte e cinco anos.
E como nos organizaríamos, de modo a que os tais fundos europeus não fossem desviados?


Vamos pagá-las. Não, aqui na caixa do supermecado.Queixas das meninas: sem clientela, custa mais a passar. Nunca mais chega a hora de almoço! Até os restaurantes fecharam por causa das obras. O tempo....? Esqueça, era uma pergunta de velho. Não, faz sentido... O tempo. Aliás, a Administração está a pensar em fazer promoções de tempo. Assim, 'tá a ver, pacotes de três dias, para serem consumidos em 24 horas. Com desconto no cartão-cliente".




Do centro comercial já gigantesco, só o supermercado está acessível. Tudo o resto, parece ruído, poeira, precário. Ampliar a oferta. Confusão geral para os condutores: onde deixar o carro? Como transportar as compras? Para quê, se já era enorme? cada vez há mais deserdados e centros comerciais, neste país.





Calma. Tudo chegará ao fim: as obras, a crise... A beleza das meninas da caixa. E os deserdados?
Deserdado, você? Sim, amigo. Deserdado das paisagens que neste pais foram engolidas por estradas, centros comerciais, empresas falidas... Para ganhar tempo.

domingo, 24 de maio de 2009

Aniversário de Sofia

A alegria das crianças, nas festas dos seus primeiros aniversários, é a mais pura ilusão de nos libertarmos do absurdo. Em nome da vida, só me resta estar atento e servir a alegria das minhas netas. Resistindo contra a usura dos valores a que chamámos "dignidade".

sábado, 23 de maio de 2009

Última, repito eu, tentativa.