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domingo, 30 de agosto de 2009

Estáticas ou dinâmicas?

São as impressões digitais a simples figuração de uma espiral? Ou apenas um registo unissuperficial?
E o que têm as ditas a ver com a cantiga do grilos? Em noites de torvelinho.
A verdade das justiças


Quem foi mais ousado? Qual dos dois merece mais tolerância? Se é que estas coisas possam, ainda que parcialmente, ser toleradas. Para que serve e como funciona a Justiça? Britânica ou de algures?

Dois crimes. Um, dos meus tempos de rapaz e que tanto gozo me deu. Teria então bebido uma cervejeca com o autor do assalto ao "correio" inglês. O mesmo que, curtida a pena de décadas, hoje se insurge contra a libertação de Megrahi, o Líbio. Em dissonãncia com Mandela, apoiante da decisão tomada pelos Escoceses. Tomada por quem ? São cada vez mais obscuras as razões e autorias deste presente enviado ao coronel Kadhafi.

O outro, é inqualificável. Que se brinque com o dinheiro do Estado ou dos contribuintes, vá lá, desde que se aplique a medida grossa às espertezas dos Madoffs. Ou dos suspeitos cá da nossa terra. Centenas de vidas humanas por uma ideia ou uma parcela de fé, nunca. É isto que nos humilha como espécie, sem redenção no Progresso.

Interrogo-me. Quantas vezes a justiça se enganou? E ainda: o que leva o Líbio, em fase terminal, a reclamar inocência, e reinvestigação do crime? Será tudo isto uma farsa? Ou a verdade será fulminada pelo cancro da próstata? A verdade terminal.

domingo, 23 de agosto de 2009

Um clube de Fidalgos

Nem sempre compro o mesmo jornal ao domingo . Passo por entre os conversadores habituais do Quiosque. Com licença! Puxo o... Estará completo?
Para veres as mamas? Desculpe? Pensei que estava a falar aqui com este amigo. Estaria. Encolhi os ombros, não faz mal e entreguei a nota. Para pagar o Correio da Manhã... Ainda olhei para o lado, caso fosse necessário prestar algum esclarecimento sobre os motivos que me levavam a pedir esta folha. Já ninguém dava por mim.

Retomavam a refrega. Aquele treinador está de rastos é o qu'eu vos digo! Não seria o treinador, antes a falta de chutadores. Ou as perseguições da arbitragem... Diziam outros. A Direcção quer fazer ovos sem omeletes. Ò contrário, pá. Pois, omeletes sem os ditos.

E um senhor em silêncio. Um senhor entenda-se, não a gentinha usada e suada que passa o dia no paleio seboso com o dono do Quiosque. Intervala com meias taças de tintòbranco , isto é, mais corda à língua. Alto, desempenado para a idade, domingueiro de bom corte. Drama. Elegeu-me para lhe escutar o desabafo: E pensar que aquele clube foi fundado por fidalgos. Sublinhou, Sim, fidalgos portugueses. É um descalabro. Só visto.
Lá isso.... Calei-me, nada petisco de futebol. E sobretudo cheguei a uma quartel da vida em que já não me posso ouvir falar por falar. Embora me tenha apetecido replicar: E o nosso Portugalzinho, também não foi fundado por um fidalgo? E veja-se lá como a coisa vai. Ponto final.

Tu já vist' isto? Topas este velhadas, sim o gajo é da nossa idade? Os do futebol regalavam-se com a foto da capa do suplemento, que ficara a descoberto ao retirar o meu jornal.

António Lobo Antunes de lábios colados a uma jovem
de trinta de trinta anos. Paixão de aeroporto.

sábado, 22 de agosto de 2009


A despedida do texugo
Santarém. Hospital. Cumprir uma obrigação, em nome da vida. Despedir-se de um parente. Conter lágrimas e remexer memórias, sem revoltas nem comiseração. Declinar que no tempo da infância, quando o mundo era verde... E ouvir que sim senhor, lá iremos um dia descobrir onde se escondeu o texugo.

Apesar de encurralado, o bicharengo escapulira-se pelas dezenas de galerias da encosta, amoitara-se no Casal de D. Jorge ou driblara para os coutos de vale Lobos e Comenda. Onde a perseguição era mais selectiva. Para, na noite seguinte, voltar a mofar de quem trabalha, rilhando as maçarocas do milheiral, nas chãs do Cervato. Décadas antes de toda aquela vista ter sido viadutada pela fúria da A1.

Naturalmente que se evitou falar da A1, má vizinha. Quem se livra de um mau vizinho?, perguntava ele, furioso e já derrotado, nesse antigamente. Até que se conformou com a passagem da autoestrada. Foi uma facada no olhar, quase lhe levou o herdado poiso da família e gados. À beira da cama de um moribundo evitam-se charlas sofridas. Sobretudo cala-se a evidência . As estradas nunca nos devolvem idênticos.

Todavia, atrevemo-nos a umas gargalhadas, na certeza de que o texugo, que se nos escapou há quase um moio de anos, ainda se há-de vir despedir do velho. Ofegante, compromete-se. É só por um afago nas listas do lombo, já não lhe quer arrancar a pele. Longe vai a vaidade das golas de samarra. Pois sendo assim, "Ele volta!", concedemos com a voz embargada. Pela máscara de oxigénio do doente e pela nossa contagiante emoção . Há-de voltar. Breve.

Está na hora. Despejo das visitas, exige o pessoal médico. Nem forças já lhe restam para abraçar. Só que ninguém lhe tira da ideia que o bicho acaba por tornar. Confirmem-lhe mais uma vez. Além, na encosta do Monte, por entre as oliveiras que ainda se oferecem às janelas do hospital. Quem sabe?

Então não te deixes adormecer, velhote. Ou melhor, dorme porque estas coisas acabam por ser sempre verdades de sonho.
Nota: este mesmo texugo também há-de ter a ver com a loucura final do meu amigo Rebelana. A seu tempo falaremos.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A receita da avó Mariana


Como última homenagem à Avó, a nossa M. pôs no Flickr uma receita de doçaria. Caligrafia azul, esforçado equilíbrio entre linhas de caderno escolar. Os precisos do bolinho. Gotas, gramas, colheres, chávenas, truques na mistura e levedação. Mais os tempos de forno.

Então não é que me deu para ler nesta lição da Avó toda a obra de um qualquer grande filósofo. Porque estes ousam partilhar a receita da vida, depois de lhe estimar os ingredientes?
Não. Apenas pela última frase da folhinha :"Ispero que me compreendas."

E saboreies os dias, arescentei eu. Bem vistas as coisas, isto não tem grande saber, não é, Avó?

domingo, 16 de agosto de 2009



ABATE

Depois da visita ao quintal da Vizinha, como vou eu explicar à Marta e Sofia que estes bichos estão aqui para um fim tão repugnante?
Ainda se oferecem frutos de verão neste dédalo de cimento e alcatrão

 No regresso de uma exposição de Henri Fantin-Latour, na Gulbenkian. 

Um dia falaste-me da sombra daquela faca, Marilisa. Desequilibrando-se da mesa.
 "A sombra vale todo o quadro!", era a tua etiqueta.

E aqui? Foi a faca que rasgou desejos, naquele figuinho pingo-de-mel? Ou foi a roda-livre da memória? De uma tarde, em 2009.

É que a foto estava afogada neste baú...
 Recordo as árvores, a tranquila colheita dos frutos mas varreu-se-me a sombra da mão que os colheu, os pós ao meu alcance...
Quem me afagou então os sentidos?

2009-2022.








sábado, 15 de agosto de 2009

Marta em Sintra. Segunda jornada
E onde está o doutor? Pergunta Marta, no princípio dos seus três anos. E porque não tem pernas nem braços? É um retrato sem pernas nem braços, tento convencê-la. Um retrato, Avô? Bem Marta, isto chama-se mesmo uma estátua. Uma estátua. Para quê?
Foi a maneira de algumas pessoas de Sintra dizerem que gostavam muito deste médico. Do Dr Simplício. Passemos a uma observação mais pormenorizada: a bata, o estetoscópio...
Sabe a Marta que o médico põe aquilo nos ouvidos para fazer frio no peito das crianças. Só não compreende que a bata seja castanha, do metal, e não branca.
Vira-se e anuncia: Olha outra, Avô! Tantas.
São duas e vizinhas. Ah pois, aquela é de outro médico. Era o Dr. Cambournac
Insiste. E onde estão os doutores? Já sei, estão no hospital, a trabalhar, não é, Avô? Vacilo. Talvez... Será já o momento de desferir? Estão no cemitério, a descansar.
Retoma de Marta. Porquê?
Como se explica a uma criança desta idade que um busto, mesmo se sobrevive à cidade é uma perfeita perda de tempo?
Valeu-me o frasco comprado ali numa loja de chineses. Sentados ao lado da primeira estátua, soprando à vez, parecíamos querer encher a Estefânea de bolinhas. Quem passava ria connosco.
Serão as estátuas menos efémeras do que as bolinhas de sabão?