O homem dos potes
E o homem dos potes aqui me tornou. Com um atraso de....
Mas, primeiro, quem era ? De onde vinha? A que propósito ou despropósito?
Sabe-se lá hoje! E décadas?
***
Conta tu, Domingos!
«Passos de bestas na areia da azinhaga. Vim à porta.
Duas, arreatadas uma a outra, escondiam o dono. Pela carga, logo compreendi: era o homem dos potes !»
Vinha aí o vendedor de potes, como todos os anos, quando a azeitona amadurecia e o sol quebrava.
Espantava que as suas garranotas aguentassem tantos barros no lombo? Sem escoicinhar.... Nem desobedecer às vozes do condutor: Sempre certas nos batimentos dos cascos. Sempre em parelha.
Mais uma venda à vista:
«Aí, primas!»
Quem não queria ter uma vasilha para adoçar azeitonas ? Para garantir conduto pelo inverno fora.
Vinham aqueles três, sabe-se lá....
«Dos Alentejos!»
****
E cheguei a isto, digo eu, porque, em boa hora, me convidaram a largar o telemóvel e ouvir
"O homem da gaita", do Zeca Afonso.
A gosto fiquei , A gosto os meus ouvidos registaram a toada daquelas tamanquinhas do Zeca.
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Só me distraí com a galhofa do Domingos:
"Vocês não acreditam!... O gajo seguia para a Azoia... Póvoa...Alcanhões.... Pela azinhaga.
O nosso Trrritrrró, ainda lhe gritou:
«Dê a volta pela estrrrrada nova, homem de Deus!
Qual quê!... Meteu por ali mesmo, direito a Vale de Lobos.
«Já 'tão a ver o resto... Ai que estojo!»
Quem conhecia o atalho daqueles tempos arriscava concluir a narrativa.
Não era caminho, era um córrego. Despedrado, escorregadio.
Onde se punha um pé logo se esborrachavam os queixos....
Deixá-lo ser casmurro. Há de arrepiar caminho.
***
Não tardou...
Aos berros... Quem estava na taberna confirmou o previsto.
« Bestas malvadas! Só me apetece dar cabo delas!Estou desgraçado, Amigos!»
Tinha de ser! Embicaram as azémolas. Adornaram e..
Perdera-se quase toda a mercadoria. Na borda da azinhaga, ficou um montão de cacos.
Ora porquê?
«Mas ouviu-se o quê, compadre?»
« Ouviu-s...um rai' que parta dum sei lá o quê... Coisa maléfica que aluou as bestas.»
***
Que aquilo aluara as bestas, repetiu-se por lá durante décadas .
Aquilo era, só podia ter sido, o homem da gaita! Bolas! Já por ali andaria...
E bruto eu sou por nunca tal me ter ocorrido!
Aditamento:
Quando o meu irmão leu este relato tardio do desmemoriado que eu sou, alertou-me:
«Ponto de ordem ao contador...»
Faltava a opinião do Trrritrrrró....
Manel Direitinho, assistiu a tudo calado. Quando acabou a lamúria do vendedor arruinado, saiu da taberna. Ia ver com os seus olhos.
Esteve no local com o Zé Lázaro. Observaram discutiram e, em conclusão:
Os potes, sim senhores, os potes é que se atiraram ao chão! Fartos de andanças no lombo das bestas .
Zé Lázaro manteve-se agarrado à ideia de coisa ruim...
E, na manhã seguinte, atravessou o pinhal do Gato, para se pendurar numa oliveira .
***
Ponto de ordem aceite, meu irmão. Obrigado.
Rio de Mouro , 2022
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