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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

ESCREVIVÊNCIAS 2. 20 O homem dos potes



 O homem dos potes

E o homem dos potes aqui me tornou. Com um atraso de....

Mas, primeiro, quem era ? De onde vinha? A que propósito ou despropósito? 

Sabe-se lá hoje! E décadas?

***

Conta tu, Domingos!

«Passos de bestas na areia da azinhaga. Vim à porta. 

Duas, arreatadas uma a outra, escondiam o dono. Pela carga, logo  compreendi: era o homem dos potes !»

Vinha aí o vendedor de potes, como todos os anos, quando a azeitona amadurecia e o sol quebrava.

Espantava que as suas garranotas aguentassem  tantos barros no lombo? Sem escoicinhar.... Nem desobedecer às vozes do condutor: Sempre certas nos batimentos dos cascos. Sempre em parelha.

 Mais uma venda à vista:

«Aí, primas

Quem não queria ter uma vasilha para adoçar azeitonas ? Para garantir  conduto pelo inverno fora.

Vinham aqueles três, sabe-se lá....

«Dos Alentejos!» 

****

 E cheguei a isto, digo eu, porque, em boa hora, me convidaram a largar o telemóvel e ouvir

"O homem da gaita", do Zeca Afonso.

A gosto fiquei , A gosto os meus ouvidos registaram a toada daquelas tamanquinhas do Zeca.

****

Só me distraí com a galhofa do Domingos:

"Vocês não acreditam!... O gajo seguia para a Azoia... Póvoa...Alcanhões.... Pela azinhaga.

O nosso Trrritrrró, ainda lhe gritou:

«Dê a volta pela estrrrrada nova, homem de Deus!

Qual quê!... Meteu por ali mesmo, direito a Vale de Lobos. 

«Já 'tão a ver o resto... Ai que estojo

 Quem conhecia o atalho daqueles tempos arriscava concluir a narrativa.

Não era caminho, era um córrego. Despedrado,  escorregadio. 

Onde se punha um pé logo se esborrachavam os queixos....

Deixá-lo ser casmurro. Há de arrepiar caminho.

***

Não tardou...

Aos berros... Quem estava na taberna confirmou o previsto.

« Bestas malvadas!  Só me apetece dar cabo delas!Estou desgraçado, Amigos!»

Tinha de ser! Embicaram  as azémolas. Adornaram e..

Perdera-se quase toda a mercadoria.  Na borda da azinhaga, ficou um montão de cacos.

Ora porquê? 

«Mas ouviu-se  o quê, compadre?»

« Ouviu-s...um rai' que parta dum sei lá o quê... Coisa maléfica que aluou as bestas.»

***

Que aquilo aluara as bestas, repetiu-se por lá durante décadas .

Aquilo era, só podia ter sido, o homem da gaita!  Bolas! Já por ali andaria...

E  bruto eu sou por nunca tal me ter ocorrido!

Aditamento:

Quando o meu irmão leu este relato tardio do desmemoriado que eu sou, alertou-me:

«Ponto de ordem ao contador...»

Faltava a opinião do Trrritrrrró....

Manel Direitinho,   assistiu a tudo calado. Quando acabou a lamúria do vendedor arruinado, saiu da taberna. Ia ver com os seus olhos.

Esteve no local com o Zé Lázaro. Observaram discutiram e, em conclusão:

 Os potes, sim senhores, os potes  é que se atiraram ao chão! Fartos de andanças no lombo das bestas .

Zé Lázaro manteve-se agarrado à ideia de  coisa ruim...

E, na manhã seguinte, atravessou o pinhal do Gato, para se pendurar numa oliveira .

***

Ponto de ordem aceite, meu irmão. Obrigado.

Rio de Mouro , 2022

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