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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Simple and short

 Love Story

Como ela dizia:

  Dois olhares

  Duas bocas

   Uma palavra...

        "Breveternidade "

PS : Da outra margem do rio Atlântico, alguém concluiu: " It's the Kiss rule!"

Sintra, 17 fevereiro

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

ESCREVIVÊNCIAS 22


Rosas no arroz-doce

Minúsculas rosas. Plantadas há mais de um século por Justina - sim,  era Justina e não Ernestina. Justina  Direitinho faleceu por volta de 1948. 
Dela guardei uma tranquila fala, um sorriso, as queixas de quem procurava sobreviver, na quase penúria da nossa azinhaga da Besteira. Habitava um casal vizinho daquele onde nasci. Rodeada de fruteiras . Numa pequena casa toucada de roseiras . 
De lá trouxe comigo, há mais de cinquenta anos, estas minúsculas e perfumadas rosinhas brancas. Trouxe e perdi uma frondosa "bela portuguesa". De perfeitos mas efémeros botões.
Poderá perder-se também a roseira de hoje. Quando, não sei.
Um dia, já não muito distante, apagar-se-á  também o aroma do limão. Aquele!

 Verde, ainda em crescimento, apanhei-o sem autorização. E quando a J'tina me surpreendeu disse, ensinando o rapazinho: 
- Agora leve à sua mãe para fazer arroz-doce.
Não levei, escondi a falta. 
Mas o limão ficou. 
E procuro-o,  continuo a procurar, sempre que me dão arroz-doce sem aquele sabor.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Merendeira

 Bom dia.Estou de novo no Hospital. Exames continuam. Máquinas, intrusões,relatórios  .

Gelo! Em jejum desde ontem.

Vista-se, espere no corredor. Não! Não pode comer. Ainda não.

Gelo!Lá fora há sol, dizem uns maqueiros a empurrar uma inerte criatura.Gelo!

 Esperar  neste conversê sobre maleitas, gelo e fome.

Um médico e enfermeiras confraternizam um cafezinho. Espremido de outra máquina: BREAK Hot drinks...

Só me apetece aquela merendeira quente. A brindeira rasgada em quatro pelos dedos da minha mãe .

Nunca se queimava , mesmo quando dizia Poças! Deus me perdoe.E soprava nas mãos . 

Pão flumegante com aquele risco de azeite . Breve  luz desfiando-se da almontolia, à  boca do forno da minha avó... 

Porquê azeite?! Panaceia,  garante a nossa amiga Marilisa, sem nada topar de medicinas ....

Mas ao que vêm agora estas mulheres ? Não vos quero aqui no gelo deste  Hospital.

À merendeira, sim! Fumegante.  Com um fio de azeite e de sol.

São primos, sabias? Sim, azeite e sol - perguntou -me há muito anos uma pintora fotógrafa.

Espero no corredor que não se repitam os exames. Gelo!

Lisboa, 31 janeiro 2023

sábado, 28 de janeiro de 2023

Caminhemos

 


Caminhemos, Companheira,

Passo lento. 

Mãos dadas 

Até onde

no chão nos dissipem

as sombras... Além.

Além 

entregues à raiz 

do cipreste...

Virão o Sol, a Chuva

o Vento...

Com eles de novo

aprenderemos o voo 

das aves 

e daremos as asas.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

O Medo


Espantaram-se os pombos.

O medo
começa na classe média

Dá votos a extremistas
Promove generais
Azeda as vísceras 
Deserta soldados 
Atormenta-lhes as mães
Invade os palácios da Loucura 
Afunda na trincheira
os escravos da Guerra
Insiste em picar o brio
de heróis e aventureiros...

Mas talvez
 um sorriso fosse mais seguro
 do que gargalos de garrafa
plantados
nos muros dos vossos quintais, Vizinhos medrosos.

Talvez os pombos voltassem.



quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

O Velho

 O velho

Acossado
pelo fugaz
Tempo
Cambaleia
tropeço 
na sombra
da própria
Sombra 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

CONTAS Do RECADO As pedras

Pedras

soltas e só

para além do olhar

pedras em cinza

deserto.

Porquê este plaino

em silêncio?

Day after... implosão 

de montanha

nuclear desgovernado

escórias de abusiva mineração...?

Minguante luar

 faz sobressair lajedo. 

É o palco  vazio onde chega 

a voz de conhecido ator anunciando a última 

representação .

Ficamos até ouvir:

"Acta est fabula".

Caem mais pedras.

Rio de Mouro, 15 dezembro 2022