Bibliambule 1
A questão:
Será que os carrinhos-de -compras contam estórias?
Vejamos...Aceitei o desafio, John! Serei capaz de dar conta do recado?
Voz ao carrinho!
***
Já não seria o Rodas nem Rodinhas...
tampouco Charriot ou Camionette! Seria a
Bibliambule!
Dos porquês da mudança nada sei.
Gui levara-me no Alfa, carregando livros.....
***
Até ali, enquanto me usaram na Fraternal da Achada, cumpri
em todas as atividades durante anos. Carregador, na minha indiscutível
condição. Carrinho de compras.
"Alombei", como dizia o Maça, com os mais
diversos materiais.
Apoiei nas mais diferentes tarefas. Começando pela instalação no novo espaço da Associação. Usaram-me na arrumação do espólio do Patrono.
Usaram-me na Biblioteca. Fui prestável ao Coro . Ajudei na montagem de exposições,
nas sessões de Cinema e Teatro, nos debates e palestras...
Desculpem a vaidade de dizer que até entrei numa das
representações. Encenada pela Gui. Como adereço, está claro!
Desloquei trastes e bugigangas, por ocasião das feiras de velharias. Ali
mesmo, ao ar-livre, no Largo da Achada.
Trouxe do supermercado viveres para as confraternizações.
Muito se divertia o Angel nos passeios de S Cristóvão à Baixa... Ele, com uma indumentária de
palhaço, umas orelhas de elefante, peitorais e dorsais... Incansável painel publicitário do muito que se fazia e faz na nossa Associação.
Havia sempre um modo de as minhas rodas e o meu saco ajudarem na construção dos dias.
Repetidamente, também ouvi por lá da necessidade de construir e dar um novo sentido aos dias.
***
Foi no Porto, repito, que a Gui, me mostrou uma nova maneira de servir
a Fraternal da Achada.
Até o JN nos deu honra de fotografia e desenvolvido artigo.
Gui desafiava os passantes, nos Aliados, a tirarem um livro do
meu saco. Escolhessem, a gosto...
E agora?
- Pois agora vamos ler e dar vida ao texto....
Era a Gui no seu melhor. Ler a meias: moitié-moitié ! Dramatizar. Improvisar texto.
Moitié-moitié?! Olha! Só agora me lembrei de dizer que a madrinha pensava em francês.
Nascida em França, filha de emigrantes portugueses, radicada em Bruxelas. Fluenciava nas duas línguas.
Visitava várias vezes por
ano a Achada. Era só sentir a falta dos amigos, logo se punha a
caminho. Sempre recebida em festa!
Foi no regresso do Porto. A Gui anunciou aos amigos:
- Vamos ter duas bibliambules!
Eu, que ficaria em reserva na Fraternal…
E uma outra?
A Gui já tinha em vista uma nova companheira de rua .... Para continuar os desafios aos transeuntes. Em Bruxelas:
A Bibliambule 2!!
Já pedira o risco a um designer seu amigo.
Tal decisão em nada me afetou. Pudesse a minha sucessora ser lá tão prestável, como diziam que eu era aqui.
(Continua)
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