Estórias e tisanas
Agora este. Produz literatura por encomenda, para quem passe pelas ruas do Funchal. Ao que me contaram, entenda-se.
Aguarda clientes, ao lado do seu carrinho de compras . Fuma em silêncio.
Aos pés, duas latas. Uma cheia, a das beatas; outra sem cheta. Quantas moedas ali caem, até ao fim da espera?
Alinhado com vendedoras de flores. Espera, quase estátua.
Logo a seguir à velhota que oferece tisanas de boa saúde em raminhos de macela.
Desce esta do Monte, no primeiro autocarro. Tira a mercadoria da cesta-galinheira e....
Pobre será a freguesia. Mas isso não lhe empece os sorrisos nem os elogios aos simples da cesta. Mais do que todos, à macela! Tisanas para muitas maleitas. Com a graça de Deus!, acrescenta.
E o seu vizinho vai aparecer? Qual será a vida daquele rapaz?
Há de chegar de mansinho:
- Hi!
- Ai?!..... Bom dia! Alegre-se! Hoje é que vai ser!....
Pudesse ela espevitar aquele pobre diabo! Que mau passadio terá tido , antes de aparecer ali?
Por vezes atira-lhe:
- Somos almas livres, homem! Ponha cara mais alegre!
Como resposta, ele ergue o polegar:
Fixe! Tudo bem! Like!
***
No fim da manhã, talvez a ervanária já tenha para ir comprar uns restos, nas bancas dos Lavradores.
Sim ou não, há que regressar. O autocarro, esse, não espera.
Parte, com a sua esgarçada cesta de verga, à cabeça.
-Passe bem, vizinho!
E ele reergue o polegar. Sem abrir bico nem aquecer o olhar.
Queimará mais uns charros e umas horas até descolar. Puxando pelo... trolley.
Sem lhe tirar o pouco convincente dístico publicitário:
POET FOR HIRE. Pay with what you like.... Especialista em poemas, estórias, estórias de... suicídios!
À vontade do passante! Que também pode ajudar a lata, se não estiver para adquirir os serviços do artista.
Quantas suicídios carregará aquele carrinho?
Mas os carros de compras não contam estórias...
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